Casal em um acampamento no Deserto de Zagora.

Como é dormir uma noite em uma tenda no meio do Deserto de Zagora, no Marrocos, com direito a passeio de camelo, música, dança e jantar!

Sobre os passeios no deserto

Quando se pensa em Marrocos, é comum se recordar daquelas cenas da Jade e do Lucas, de O Clone, no deserto, naquela coisa ultra-mega romântica. Claro que dá aquela vontade de visitar o deserto também! Pois saiba que as cenas foram filmadas em Natal, haha! Por quê? Acho que seria muito trabalhoso para a equipe não só fazer as cenas no Marrocos, como também se deslocar até o deserto do Saara, que não é nada perto – tanto que os tours duram mais de um dia e envolvem andar de dromedário e dormir em meio às dunas. Então saiba, antes de mais nada, que, se escolher fazer um passeio por essas bandas, vai ficar um bom tempo com a bunda sentada em um banco de van, e que ela vai doer. Bastante.
“Nossa, Igor, mas então é um saco fazer esse passeio”, você diz. Muito pelo contrário! É uma experiência interessante cheia de paisagens inacreditáveis e de contato com cultura diferenciada e que recomendo a todos que quiserem sentir coisas novas (como, por exemplo, dor na bunda, intensificada pelo passeio de dromedário, inclusive, que vai te fazer ficar 1 semana sem andar direito) e voltar com muita história para contar!
Agora, por favor, não vão ter o azar que tivemos de cair chuva no meio do deserto. Durante os 4 meses do inverno, normalmente cai chuva em 3 dias… e um desses dias foi justamente o nosso. Tínhamos planejado e ensaiado tirar fotos do céu estrelado e tudo mais, porém nada disso foi possível.

Já viu nosso vídeo musical do Marrocos? Não? Veja acima! Só tem 4 minutos, ou seja, bem curtinho, mas bem animado, com muita dança e animação. Pode ver que vai curtir!

Nossa visita ao deserto no Marrocos foi em Dezembro de 2017.

Construção no caminho entre Marrakech e Zagora.
Você vai encontrar vilarejos desse tipo ao longo do caminho para o deserto. Tudo marrom.

Afinal, quais são os passeios disponíveis?

No geral, as agências oferecem dois tipos de tours.
  1. Tour de 2 dias/1 noite no deserto de Zagora: foi o que escolhemos. É um tour simples que vai até a cidade de Zagora, onde você faz um passeio com dromedários e dorme em uma tenda no meio do deserto. O deserto não é tão isolado assim: na realidade, a gente conseguia ver as luzes da cidade no horizonte e também ouvíamos barulhos de carros. Também as dunas não são muito altas e não tem muita areia, são mais pedrinhas. Não é aquele deserto dos sonhos que a gente vê nas fotos, mas dá pro gasto.

    Normalmente, para-se em alguns lugares no caminho, como os estúdios de Ouarzazate ou casbá de Aït-Ben Haddou. Normalmente tem de se escolher as paradas, pois não dá tempo de fazer tudo. No mais, você realmente fica um bom tempo dentro da van.

  2. Tour de 3 dias/2 noites no deserto de Merzouga: esse sim é o tour para o deserto dos sonhos. Não escolhemos porque precisa de tempo, e não tínhamos muito. Esse é bem ao sul de Marrocos, lá no Saara mesmo. Nesse tour, você passa também, normalmente, pelo casbá de Aït-Ben Haddou ou pelos estúdios de Ouarzazate, mas também por vários outros destinos, como o Dades Gorge. Em uma das noites, dorme-se em um hotel no meio do caminho, e, na outra noite, em tendas no deserto.
Em ambos os casos, existem opções mais baratas e mais caras para os variados níveis de conforto nas tendas, mas, de toda forma, não vá esperando algo muito confortável de qualquer modo, principalmente em se tratando de banheiro (em alguns acampamentos são, inclusive, inexistentes). 
Também em ambos os casos, sempre tem a clássica parada em uma loja de tapetes. Eles são belíssimos, porém não se engane: também são caros. Além do mais, sentimos que ficamos muito mais tempo do que queríamos em uma dessas lojas, sendo que havia tanta coisa bacana pra ver. 

Dica: Estávamos viajando em 2 casais, então pagamos um pouquinho mais caro para termos uma tenda só de nós quatro, e valeu muito a pena, pois pudemos ter mais privacidade. Se estiver em grupo, compensa negociar.

Paisagem típica do Deserto de Zagora.
Eu fazendo cara de paisagem em uma paisagem típica do caminho.

Onde reservá-los? Precisa ser com antecedência?

Por toda a Medina, existem trocentas agências que fazem tours diariamente. Não precisa reservar com antecedência. Apenas chegue lá, ande 200m e vai achar alguma agência com certeza. E outra. E outra. Reserve o tour com aquela que lhe trouxer mais confiança.

Preço: 60 euros
Inclui: transfer, uma estadia de um milhão de estrelas em uma tenda do deserto (ainda que essas estrelas estejam atrás das nuvens, como foi o nosso caso), janta e café da manhã na tenda. O almoço na ida e na volta não estavam inclusos e tivemos que pagar.

Dentro de uma tenda no Deserto de Zagora.
Dentro da tenda em que tivemos o nosso jantar no deserto.

Faz frio ou calor?

Depende da época em que for. Como fomos em Dezembro, fez 2ºC durante a madrugada, mas provavelmente a sensação térmica foi bem inferior. Isso porque teve uma hora durante a madrugada na tenda no meio do deserto em que eu pensei que, se existia a sensação de estar morrendo de frio, era o que estava acontecendo!

Por outro lado, tenho um amigo que foi lá em Julho e fizeram o mesmo passeio, com a diferença de que dormiram todos fora das tendas, tamanho era o calor! Isso porque a temperatura MÍNIMA nessa época pode ser de 25ºC. Pois é. Pra mim isso é total falta de dignidade, pois, no frio, pelo menos pudemos colocar 2 camadas de cobertor e 3 camadas de roupa e estava tudo bem, hahaha!

Ou seja, nota-se que é um clima de extremos e que você pode sentir calor ou frio a depender da época em que for. Para temperaturas mais amenas, escolha épocas entre abril e junho, ou entre setembro e novembro.

Visão do casbá de Aït-Ben Haddou.
Aït-Ben Haddou foi a coisa mais incrível da viagem.

O nosso tour

A ida

O início

No início, a van parou perto de nosso riad, onde embarcamos para o início do tour. Eles nos levaram até um ponto em que saímos da van, ficamos esperando um pouco e entramos em outra, com mais gente. Tivemos a impressão de que as diversas agências de turismo juntam pessoas quando não há muita demanda, foi o que provavelmente nos ocorreu.
Seguimos, então, com a van lotada em direção ao deserto. E tinha de tudo no ônibus: árabe, francês, duas italianas, um romeno – uma galera mesmo.
Importante mencionar que alguns estabelecimentos em que paramos no meio da estrada, mas não anotamos nomes. E, procurando no Google Maps, simplesmente não encontramos. Falha nossa.
O caminho faz curvas e mais curvas entre as montanhas, o suficiente para deixar enjoado quem não tiver o estômago muito bom.

Parada para o café da manhã

Houve uma parada para café da manhã, não incluso, em um estabelecimento no meio da estrada. Ele tinha um terraço, de onde se podiam ver belas formações da Cordilheira do Atlas. Pena que estava tão nublado!
Não conte, contudo, com esse café da manhã, porque o cara da van não dá tempo de você comprar nada que não seja um snack industrializado.

Paisagem da Cordilheira do Atlas.
Por que raios o tempo foi nublar em nossa visita ao deserto? Valeu Saint Peter das Arábias. De todo modo, a Cordilheira do Atlas é belíssima!

Um morro no mirante no meio do caminho

Também paramos para subir em um mirante com mais uma vista espetacular das formações montanhosas da região. Tudo muito belo e, importante, com um vento de gelar a espinha!

Almoço

Paramos, logo a seguir, para almoçar no meio do caminho. Desconfio que o restaurante nem sequer tivesse nome, hein, era bem no fim do mundo MESMO, na famosíssima rua Lugar Nenhum. Comi um Tajine de frango – que é essencialmente um cozido de legumes com frango -, enquanto Liliam pediu um espetinho, também de frango, que causou inveja lenta e dolorosa a todos ali, além de um baita olho gordo. Ninguém imaginava que viria um espetinho tão parecido com os brasileiros! Foi bom.

Uma longa ida

Prosseguimos dentro da van, com a bunda cada vez mais dolorida de tanto ficar sentado por horas e horas. Deu a louca nos quatro brasileiros aqui e resolvemos começar a cantar Despacito, o que causou um efeito muito louco dentro do ônibus cheio de gringo. Partimos para um Ai Se Eu Te Pego, percorrendo a clássica MPB brasileira de qualidade tipo exportação em uma sessão de músicas que nos faria, hoje, termos vergonha alheia de nós mesmos. As italianas do ônibus não demoraram para colocar os hits mundiais de reggaeton para badalar a van, e até que o negócio ficou divertido, haha! 
Mentira. O negócio não estava divertido. Era apenas uma forma de tentar compensar a trágica sensação de estar por tantas horas no ônibus, perguntando a nós mesmos o que fizemos para merecer aquilo, oh, céus!

Mais uma parada para um pips

É óbvio que paradas para dar aquela mijadinha básica são necessárias. Pelo menos, dessa vez, estávamos perto de Zagora, e paramos em um lugar que já era bem típico, com casas de barro mesmo, aquela coisa marrom. Aproveitamos para tirar fotos, claro. 

Finalmente em Zagora

Chegamos, enfim, na cidade de Zagora, que é até grandezinha, mas bem do interiorzão marroquino mesmo. Passamos observando-a pelo ônibus, e confesso que deu vontade de sair para conhecer melhor algumas construções, mas infelizmente ali era só passagem mesmo, que pena! 
Continuamos até um lugar próximo do deserto onde descemos da van para pegar o próximo meio de transporte: dromedários. É aí que uns carinhas vestidos de bérberes – os tais povos nômades árabes que habitavam essa região no passado – te recepcionam para iniciar a montaria. Não se iluda, não irá montar camelos como os bérberes faziam antigamente. 
Só quando você monta em um dromedário e ele levanta que você tem noção da altura cabulosa! Acho que uma queda seria algo bem feio, então é melhor segurar no bicho por sua vida! 
Agora, vamos ao ponto mais importante de tudo: andar de dromedário faz você se sentir mais vivo e faz você valorizar cada momento de sua vida, porque é provavelmente uma das piores coisas que já fiz! Sério, é a coisa mais desconfortável, principalmente se você for homem. Aliás, se for homem, considere ter pelo menos produzido ou ao menos encomendado um filho, ou então congelado alguns espermatozoides, porque teu documento será amassado como nunca antes. E, independentemente de teu gênero, para montar um dromedário, saiba que terá de abrir tuas pernas como nunca fez na vida, e manter elas abertas por 1h. Sim, pois a montaria é 1h de muita dor e sofrimento. E não tem como ser diferente! Teu corpo vai doer por 7 dias e 7 noites ininterruptas como se um caminhão com um monte de melancias transgênicas tivesse passado em cima de você.
A sociedade protetora dos animais há de dizer que os coitados são mesmo os dromedários. Infelizmente, terei de concordar.

A chegada nas tendas

De todo modo, sobrevivemos e chegamos no acampamento do deserto. Várias tendas em círculo e uma tenda maior, onde teríamos a nossa janta. Um tenda separada, distante, servia de banheiro. Todos acomodamos nossas coisas em nossas tendas e fomos até a parte central, onde sentamos em um tapete. Os guias começaram a fazer perguntas para a gente para animar: quem éramos, de que país vinhamos. E foi precisamente aí que começamos a conhecer as pessoas. Sempre muito bom entrar em contato com gente tão diferente!

Daí fomos para a tenda da janta, onde nos reunimos em pequenas mesas (para sentar no chão, mesmo), e nos ofereceram tajine, que, aliás, estava bom. Após a janta, começaram a tocar músicas típicas bérberes e fomos convidados a dançar. Muito bom!

Engraçado: estávamos conversando com as italianas do grupo e uma delas virou e falou, “eu sei algumas palavras em português!”. Perguntamos qual, e ela apontou para um pão e falou, com muito prazer, “pau”. Como brasileiros malvados, demos gargalhada, e falamos que essa pronúncia transformava a palavra em algo constrangedor. Ela entendeu na hora, hahahah! Falei que sabia palavras em italiano também, graças a novelas brasileiras, como, por exemplo, “va bene! Caspita!”, e elas se assustaram num nível com o “Caspita!” que eu me assustei com elas. Todos riram.

Foi durante a dança que a gente notou barulho de chuva caindo na tenda. Sim, começou a chover no deserto. Neste momento notamos como São Pedro, ou seja lá qual for o equivalente dele no universo islâmico, gosta de trollar a gente bonito!

Uma noite no deserto com chuva!

Ficamos cansados e era hora de dormir. Antes, queríamos tirar algumas fotos de longa exposição mesmo estando com nuvens para ver o que saía, e, óbvio, ficou ruim. Então tivemos a ideia de fazer light painting, uma técnica em que você move uma fonte de luz enquanto o obturador da câmera está aberto captando imagem, gerando um rastro de luz, e o resulado vocês veem abaixo! Até foi divertido. Isso tudo usando a capa do meu tablet em cima da câmera para que ela não molhasse!

Light painting no Deserto de Zagora.
Tentativa frustrada de Light Painting no Deserto. Deu certo sim, amiguinhos.

Antes de nos recolhermos, claro que precisávamos ir ao banheiro. Como é o banheiro nesses lugares? Como disse, é uma tenda separada e distante. Dá um pouquinho de medo ir até lá em um breuzão! O banheiro tem compartimentos com privadas daquelas que ficam no chão e um galão de água com uma torneira gelada (que não ajuda em nada, dado que o frio já estava pegando).

Deitamos. Não fazia tanto frio assim, então dormi com roupa normal. Dormimos ao som gentil da chuva caindo na tenda.

Foi aí que, de madrugada, acordei com o maior frio do mundo e coloquei desesperadamente tudo quanto é roupa possível para tentar aguentar!

A propósito, se por acaso a chuva parecia gentil quando fomos dormir, quando acordamos parecia que estava caindo uma tempestade do lado de fora, com muuuito vento e muito barulho! Acordamos por causa disso e ficamos morrendo de medo! Além disso, latidos de cachorro se ouviam de fora, um negócio de terror mesmo! Que medo que sentimos! Ficamos pensando como raios iríamos sair dali!

Porém, logo bem cedinho, pelas 6h da manhã, o guia nos acordou e tivemos que levantar e sair.  Descobrimos duas coisas: a van já estava ali do lado de nossas tendas, e a chuva não estava tão forte assim, somente o vento, e daí tivemos a impressão de que estava ocorrendo um temporal.

Tomamos café da manhã, basicamente pão.

Aí vem uma coisa que achei muito chata do passeio, os guias estavam com MUITA PRESSA, simplesmente não deu tempo de parar pra apreciar ou tirar fotos, mesmo estando nublado e feio.

Mesmo assim, decidimos voltar de camelo, porque somos sadomasoquistas mesmo e temos problema. Mentira, a gente queria tirar fotos… Mas foi tão rápido e não deu pra tirar nada decente.

A Volta

Labirinthe du Sud

Na volta, é claro, paramos em uma loja de tapetes em Ouarzazate, o Labirinthe du Sud, que também era um museu até bem interessante de coisas bonitas. O cara pediu para não compartilhar as fotos do lugar internas, então… fazer o quê. A parte do museu é bacana e interessante, mas a parte dos tapetes é chata, pelo menos para a gente que não queria gastar nosso dinheirinho nos tapetes caros, ainda que bonitos!

Casbá de Aït-Ben Haddou

Vistamos durante a volta o casbá de Aït-Ben Haddou, próximo da cidade de Ouarzazate. É uma cidade murada de 1300 anos de idade, e é patrimônio cultural da UNESCO. Inúmeros filmes e séries foram filmados ali, incluindo Game of Thrones, quando Daenerys Targaryen, a mãe dos dragõs, libertou os escravos na Batalha de Yunkai! Pra mim, foi tão incrível que resolvi fazer um post só sobre esse lugar, e você pode conferir no nosso post Aït-Ben Haddou em Ouarzazate, local de filmagens de Game of Thrones.

Neve nas montanhas

A seguir, fomos em direção a Marrakech, parando somente em alguns lugares para comer. 
Enquanto atravessávamos as montanhas, uma situação muito curiosa: neve. Sim, da janela do ônibus eu conseguia notar alguma neve acumulada no chão, mas pouca. A medida que íamos subindo na estrada, a neve começava a ficar mais concentrada. De repente, tinha é bastante, a ponto de, inclusive, estar nevando! Sim, a primeira neve de nossa longa viagem, que logo depois se estenderia para a Espanha, Andorra e a França, foi no Marrocos, acredite se quiser! No lugar em que menos imaginaríamos ver neve. 
Claro que eu desesperadamente pedi para o condutor que parasse um pouco só para a gente tirar algumas fotos. Enchi tanto o saco que ele o fez. Brasileiro é foda né, não pode ver uma nevezinha que fica feliz. Os europeus, enquanto isso, ficaram com cara de “sério isso? Neve é uma bosta”. Jamais imaginaríamos ver neve por lá!

Chegando em Marrakech

O restante da viagem foi essencialmente seguir para Marrakech novamente, onde chegaríamos, finalmente, em nosso riad. Espero que tenham curtido o post e nossas aventuras!

Stories

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